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Quero fugir, não tenho forças para ajudar (Conto)

AVISO: Esse é um conto evangélico. Contém cenas fortes. Não recomendado para menores de catorze anos. Não aceito preconceito, de nenhum tipo, por aqui.


Dedicado a meus líderes que inspiraram os personagens Dayo e Miranda, que eu amo muito, e tenho muito orgulho: Ademar e Adelise Meyer.

Era verão, e estava quente. Eu estava sentada ao lado do ar condicionado ligado, então provavelmente eu iria pegar um resfriado depois. Mas, bem, era uma data importante. Era o encontro nacional de jovens evangélicos, e o lugar estava tão lotado quanto não poderia estar. O evento estava acontecendo na minha igreja, pois tinha um dos templos maiores do país. 
Eu era coordenadora de mídia e comunicação da minha igreja. Por isso mesmo, tinha um notebook comigo, onde eu ao mesmo tempo, cuidava o datashow e noticiava o que acontecia no Facebook e no Twitter que tinha criado especialmente para o meu grupo de jovens. Era um dia feliz e cheio de expectativas para todos nós. Onde jovens se encontram é o lugar perfeito para se fazer amizades, e quem sabe, encontrar aquela pessoa especial.
Meu nome é Aretha. Eu sei, é um pouco diferente. Trata-se de um nome grego, já que minha família é ortodoxa. Eu e meus irmãos, escolhemos a religião evangélica, em um dia comum há dois anos atrás, quando Deus surgiu em nossas vidas e nos mostrou um mundo totalmente novo. Claro que respeito e muito a religião dos meus pais, inclusive amo meu nome, cujo significado é o que me diferencia dos meus irmãos e do resto do mundo. Sou A Melhor. Sou Aretha.
Meus irmãos, aliás, são os gêmeos dois anos mais novos que eu, Berenice e Benedito. Os dois nasceram numa época em que minha mãe tinha uma doença grave, e a gravidez, por milagre, ajudou a recuperação. Por isso mesmo, seus nomes significam Aquela que trás a vitória, e Bendito. Com seus dezesseis anos, Nice era a mais responsável da família, inclusive mais que eu. Dito era o extremo oposto. Nunca o vi muito envolvido com as coisas da igreja, e vivia a procurar encrenca por aí. Mas era um bom garoto, nunca prejudicou ninguém com sua hiperatividade. Que aliás, era uma características dos dois.
Claro que Berenice estava sentada ao meu lado, no seu melhor look - ela tinha um visual nerd chic que eu amava - e com a chapinha bem feita no cabelo cumprido. Dito estava em algum lugar do lado de fora, provavelmente tentando conquistar as pobres meninas inocentes, que era sua maior fama. 
Como o evento duraria o dia todo, haveria um intervalo para o almoço, que poderia ser realizado ali ou em casa. Meu líder de jovens, Dayo, estava falando sobre a honra de ter aqueles jovens ali, e se emocionara. Ele era uma benção de Deus em nossas vidas. Antes dele, o grupo de jovens era disperso, desanimado e quase nunca se envolviam no que não envolvesse diversão na teoria deles. Dayo foi aquele que não só tornou Deus maior que tudo em nossas vidas, como além de tudo isso, é divertido, amigo e conhece a todos nós pelo nome. E o amor que tem por nós é tão puro e tênue que me emociona só de pensar. Finalmente, ele despediu a parte da manhã.
- Ei, Aretha, enquanto termina tudo aí, vou dar uma volta para ver se conheço alguém, tá bom? - Berenice sorriu - Volto em meia hora no máximo, consegue desligar tudo até lá, né?
Fiz que sim com a cabeça, sem tirar os olhos da tela. Vi pela visão panorâmica quando ela saiu, atrás dos centenas de jovens. Continuei meu trabalho pela meia hora prometida e só então, desliguei o computador e o aparelho de datashow.
Saí para o pátio, observando tudo. A maioria estava no outro prédio, almoçando ou esperando na fila por isso. Os poucos jovens que sobraram estavam do lado de fora, conversando com Miranda, a linda e amável esposa de Dayo, grávida de sete meses e sempre com uma fé inabalável em todos nós. Tínhamos líderes de ouro, e eu sabia bem disso.
- Então, vamo lá? - convidei - O ônibus sai em alguns minutos. 
Berenice estremeceu ao meu lado, mas eu ignorei. Não avistei Dito em lugar algum.
- Cadê o Dito? - perguntei aos outros.
- Tá almoçando - falou a voz delicada e calma de Miranda, sorrindo - Deixa ele aí, Aretha, cuido dele - ela piscou.
Olhei pra ela com aquela expressão "Tem certeza que quer fazer isso? Ele é Benedito!". Ela fez que sim com a cabeça a minha pergunta imaginária. Confiança demais, como sempre.
Fiz com a cabeça um sinal para que Nice andasse. Ela me seguiu, um tanto quieta, o que me deixou meio desconcertada. Berenice e Benedito eram conhecidos por falarem o tempo inteiro, criarem assuntos do nada. Algo devia ter acontecido. Talvez ela tenha tentado conversar com alguém que a ignorou ou algo assim, não sei. Mas isso não seria motivo o suficiente para fazê-la calar, devia ter acontecido alguma coisa.
- Nice? - estávamos agora no corredor que levava ao estacionamento, onde  o ônibus esperava - Aconteceu alguma coisa?
Ela olhou de um lado a outro, nitidamente assustada e me abraçou forte, tremendo tanto que eu tive medo que despencasse.
- Nice, o que foi? - perguntei de novo, agora mais carinhosa.
- Eu perdi a virgindade com alguém hoje, Aretha - ela disse isso num sussurro rápido, abafado pelos soluços - Eu quero morrer. Eu devia morrer, devia ir pro inferno, eu mereceria.
- Ei, não viaja, Bê - só a chamava assim quando se tratava da minha irmãzinha, não mais da minha melhor amiga - Todo mundo merece morrer, todo mundo tem pecado, Deus não olha tamanho de pecado, tá bom? Agora conta essa história direito, ok?
Ela caiu em um choro dramático, com soluções e lágrimas em demasia. Meu ombro encharcou e eu tive vontade de chorar junto com ela, mas o que teria acontecido?
***
Finalmente, estávamos no ônibus. Meu irmão estava com a gente, apesar de já ter almoçado. Além de nós, mais seis jovens estavam dentro do veículo, um pouco mais atrás, de modo que não podiam ouvir o que falávamos.
- Agora que já está calma, pode me contar o que aconteceu? - pedi, implorando a Berenice, que agora estava sentada quieta, olhando a janela.
- Foi... Tudo rápido demais. Confuso demais - ela falou, finalmente.
- Quando? - perguntei, arrasada. Queria tanto ter o que falar, uma forma de ajudar, mas eu não via como.
- Na hora do almoço - ela mordeu o lábio, mas ainda não olhava pra mim - Quando saí de perto de você.
Enruguei a testa, meu peito doendo por dentro.
- Mas, Nice... - mordi o lábio também, com tanta força que senti gosto de sangue - Foi assim tão rápido? Como foi que isso aconteceu? E com quem?
Ela tinha os olhos baixos, como se tivesse de olhos fechados. Todo seu corpo tremia, suas pernas faziam um movimento como se estivessem dançando.
- Ele provocou - ela choramingou - Estávamos conversando, ele subiu em mim, eu não disse sim, mas também não disse não. Ele me provocou.
O choro saiu da garganta dela, num corroído sentimento de angústia e culpa. Me segurei pra não cair no choro também.
- Ele fez de uma forma que praticamente nos obrigou - agora era a voz de Dito - Perdi as forças, não consegui lutar, ele praticamente abusou da gente.
Meus olhos cresceram automaticamente, e eu me ergui de súbito, o coração batendo descompassado.
- Você também? - perguntei, agora a raiva crescendo dentro de mim - E com um cara?
Eu estava gritando agora. Todos os outros jovens me olharam, Dito me xingou com um olhar. 
- Não foi nossa culpa, foi um abuso - ele repetiu, como pra fazer ele mesmo acreditar.
De repente, o ônibus acelerou muito, quase erguendo. Me segurei como pude, mas caí no chão. Todo meu corpo doeu, reclamando do tombo. Os outros se seguraram nos bancos, fui a única que estava de pé. Eu gritei. O ônibus virou na direção de um caminhão, arrastando o outro veículo com ele até a avenida, e bateu com força no prédio, junto com o caminhão. Pressenti a explosão, antes que pudesse fazer alguma coisa, Dito tinha aberto a saída de emergência e nos ajudava a sair do ônibus.
- É ele, Aretha - choramingou Berenice, como uma criança grande - Foi ele, deve ter ouvido, tá tentando matar a gente.
- Não seja ridícula, Bê, por que ele mataria você?
Vi uma sombra perto de mim. Virei a cabeça e vi, perto demais, Keiko, a oriental de vestido vermelho e cabelos pretos soltos ao vento. Ela tinha no rosto um sorriso diabólico, que fiz o que uma cristã faria.
- Tá repreendido, em nome de Jesus! - gritei, meu coração pulando no peito. Ela riu.
- Vocês estão mortos, seus imbécis. E nenhum Deus vai salvar vocês.
Corri, levando os gêmeos atrás de mim, o mais rápido que pude. A japa aparecia em volta como se estivesse se teletransportando muitas vezes. Finalmente chegamos em casa. A frente estava coberta de ferramentas. Estranho. Entramos o mais rápido que conseguimos, Berenice ainda chorava. Dito fechou a porta atrás de nós, e só então virei. Os corpos inatos dos meus pais estavam no meio da sala, as cabeças esmigalhadas, provavelmente por um martelo. Estremeci, e só então caí no choro, caindo sentada ao chão.
- Meu Deus! - gritei em voz alta - Te sirvo há tanto tempo, por que é que isso está acontecendo com a gente? O que foi que fizemos?
- Foi exatamente esse o erro de vocês - o rosto do motorista, que eu sabia se chamar Dakota, surgiu no vidro agora quebrado da porta dos fundos - Servir a Deus. Tenho observado sua irmãzinha há meses. Ela nunca sequer olhou para mim, porque sabia que eu não tinha o mesmo Deus que vocês. Foi fácil mentir que tinha me convertido e puxar um assunto qualquer, fazê-la pensar que o abuso foi culpa dela. Enquanto vocês estavam naquele culto, eu matava seus pais. Tudo isso não é mero capricho de alguém que desejou uma menina, não. Tudo isso é pra ele.
A risada ecoou pela casa, eu estremeci. O choro de Berenice ficou mais alto. Mas que raio estava acontecendo, o que é que eu não sabia?
- Ele é um adorador de Satã - Dito explicou, tão calmo que tive medo que fossem dois - Ele e Keiko. Os dois estão namorando há algum tempo, planejando coisas malignas. A missão de Keiko era desviar alguns dos jovens, ela não conseguiu.
- Por pouco tempo - Keiko surgiu bem atrás de mim, e eu gritei. Tentei correr, mas não tinha pra onde. Ela tinha uma arma na mão, uma que eu sabia ser uma 38, porque meu pai tinha treinamento militar. Todo meu corpo tremia. Nunca tive medo de morrer, sempre tive convicção de que estaria no céu se acontecesse algo. Mas pela primeira vez tive medo.
De repente, uma mão surgiu não sei de onde e tirou a arma das mãos de Keiko como num passe de mágica. As mãos eram de Dayo, que entrara com Miranda, sorrindo os dois.
- Demorei um pouco? - ele perguntou, como se estivesse ali para uma visita de fim de semana - Por favor, Benedito, pegue sua irmã gêmea e leve para o carro, agora.
Dito segurou Nice no colo, que ainda chorava, tremendo. Eu ainda chorava, mas eram só lágrimas agora. Miranda me abraçou, mantendo-me longe da bagunça toda. 
- Vou chamar a polícia - anunciou Dayo, pegando o telefone. Em seu momento de distração, Keiko tomou a arma de volta e apontou para a cabeça dele. Miranda gemeu.
- Como foi que souberam o que tava acontecendo aqui? - ela perguntou, desnorteada.
Dayo ainda sorria, como se fosse a mais amigável das conversas.
- Deus me deu uma visão enquanto eu almoçava. Vi vocês dois, e tudo o que aconteceu, inclusive aqui. E Papai me disse para salvar as crianças, para protegê-las, dar um lar a elas.
- Seu Deus vai proteger você de um tiro? - ela sorriu, maliciosamente, destravando a arma.
- Talvez - ele sorria - Se salvar, tudo estará bem. Se não salvar, vou estar com ele em minutos. Tenho certeza.
- Dayo - era a voz de Dakota agora, que já abrira a porta e estava em frente a namorada. - Sei que fiz atos abomináveis. Mas deixe que Keiko se salve. Ela é uma boa garota. Ore por ela, leva-a daqui, tire desse tormento, faça com que aceite a teu Deus de verdade, que renuncie todas essas coisas.
Dayo assentiu, com confiança. Inesperadamente, Keiko virou a arma na direção de Dakota, que arregalou os olhos.
- O que tá fazendo? - ele perguntou, assustando.
- Não vou ir com eles, Dake - ela falava com raiva - Não me obrigará a isso. Fiz o juramento que ia obedecer a ele a vida toda. Que ia ajudá-lo a governar o mundo, quando ele vencesse Deus.
Eu soltei um gritinho. Ver seus amigos falando dessa forma dói. É como se alguém tivesse enfiado uma adaga em suas costas, e você não pudesse tirar dali, pois sangraria mais. Mas se não tirar, não vai cicatrizar nunca. Então ela fica ali, doendo, machucando como o tormento eterno. É triste perder um amigo assim. É pior que perder para a morte.
- Adeus, Dake - eu fechei os olhos. 
O tiro ecoou dentro da casa, e eu soltei o choro num gemido. Abri os olhos, a procura do corpo de Dakota, mas o que vi foi ele olhando aturdido para o corpo de Keiko, que acabara de dar um tiro na própria cabeça.
- Dake - a bondade de Miranda sempre falava mais alto, seu coração bondoso acreditando no melhor das pessoas - Deus te aceitará de volta, se você se voltar pra ele. O Diabo não vence a Deus. Você pode vir, se quiser, pro lado bom, basta pedir perdão a Deus.
Ele gemeu um bocado, olhou para Dayo, que o olhava num misto de compaixão e esperança.
- Dayo, eu nunca entendi o por que de vocês amarem tanto todos esses jovens - ele falava sinceramente agora - E nem esse Deus. Se ele é tão bom, por que não acaba com a pobreza, com a fome? Ou não salva a todos, ao invés de dar a eles a condenação eterna? Nunca entendi nada disso, mas uma coisa entendo muito bem, Dayo. Entendo que o que vocês fizeram hoje por essas três crianças, eu não faria nem a minha mãe. E isso deve ter um significado. Não consigo amar a ninguém, e mesmo assim, sua esposa acaba de provar que me ama. E isso é confuso. Mas se esse amor que vocês sentem vem desse Deus que vocês confiam, eu O quero.
Dayo e Miranda sorriram. Eu olhei de um a outro, desacreditada. Não é possível que pudesse mesmo acreditar na bondade daquele filho da mãe que fizera tanta maldade pra minha família. Não é possível que fossem mesmo perdoá-lo.
Uma voz em meu ouvido soou como um trovão.
- O amor vem de mim, filha - era Ele, era Deus - O perdão também. Se eu o perdoei, quem é você para sentir raiva ou mágoa?
Um bálsamo de fogo surgiu no meu peito, e do meu coração surgiu um amor por aquele homem estranho. Não um amor carnal. Um amor pela alma dele.
Hoje fazem dez anos que tudo isso aconteceu. Dake se tornou meu marido, três anos depois. Deus curou o trauma dos meus irmãos, e também os deu amor. E Dayo e Miranda são tutores dos meus irmãos, desde que meus pais se foram. Keiko foi homenageada pela igreja da mesma forma que qualquer um de nós, e ninguém soube que ela era adoradora do outro lado. Preferimos que os outros lembrassem dela como aquela menina linda e meiga, que ajudava a todos e tinha um lindo dom do canto.
As coisas mudaram. Hoje eu ensino adolescentes que sofreram abuso a passarem por isso, e perdoarem seus agressores. Os gêmeos fazem um trabalho semelhante com crianças. E no mundo, as coisas podem demorar muito ainda pra se tornarem como a gente quer. Mas Deus está sempre pronto a nos dar amor, por todas as pessoas. E o perdão, quando necessitarmos dele.


Autoria de Fran Carvalho
Agradecimentos a Eliéser Carvalho, Yasmin Souza e outras pessoas que me ajudaram de alguma forma na criação do texto.

Falando de... PROMESSAS DE DEUS X PLANO DE DEUS X VONTADE DE DEUS (Cap 2 - Drama de Fatima)

A continuação do drama de Fátima ;)

Toda a vida de Fátima passou por uma volta de 180° nos últimos dias. Depois de tudo o que aconteceu, ela resolveu seguir seu coração ao invés da vontade de Deus, e voltou com o namorado Brendo. Deus prometera a Gabriel que o melhor dele era Fátima. Brendo está mudando, Gabriel parece ter se tornado tudo o que Deus queria para ele. Mas o coração de Fátima sofre.
No meio disso tudo, a pobre Fátima se vê perdida entre promessas, sentimentos e críticas. A família, amigos e até seus líderes parecem estar contra tudo o que ela fez. Chegou a ouvir de um deles que "o tombo ia ser grande". Afinal, estava ou não fazendo o que era certo?
O fim de semana conflituoso que passou, começou mais ou menos assim.
Era sexta-feira, Fátima e Brendo voltavam de mãos dadas de um culto em uma igreja que visitaram. Os pensamentos de Fátima ainda giram, ela se vê como a pior pessoa da Terra, por ter magoado o namorado e agora estar magoando o melhor amigo. As críticas que recebeu está torturando seu íntimo, e tudo que ela precisava era de alguém que ouvisse e não a julgasse por estar feliz. Só que ela não esperava por essa...
- Acho que se te visse com outra menina, eu surtava, sério - comentou, falando sobre o ciúme exagerado que sente do namorado - O que tu faria se me visse com outra pessoa?
- Se eu te visse com o Gabriel, por exemplo? - ele ironizou - Acho que teria te falado que você não era a pessoa que eu imaginei ser, que eu pensei que tu fosse uma garota diferente, e que tu me decepcionou.
Decepção. Palavra maldita. No dia após ter voltado a namorar, encontrara Gabriel, que lhe dissera estar decepcionado. Não por ela ter voltado com Brendo, mas por ela ter prometido não fazê-lo e fez. Era uma grande covarde, isso sim.
As palavras corroeram a alma como piche quente faz com a pele nua. Decepção. Sentia como naqueles desenhos animados infantis, em que uma palavra ou frase fica gritando dentro da cabeça do personagem, o atormentado. Decepção. Detestava saber que tinha feito isso com duas pessoas que amava.
Chegou em casa de madrugada, com o choro entalado na garganta, a dor fritando o cérebro. Se sentia um lixo, isso sim. Merda. 
O telefone toca. É Gabriel. Atende o telefone, ainda em pé, percebendo a necessidade que o amigo tinha de conversar. Sentou-se escorada no armário, o chão gelado lhe congelando, mas já estava muito mais gelada por dentro. Pediu a ele que falasse, que ela estava escutando. E ele falou e falou. Sentia-se bem de poder ajudar.
E depois de quase uma hora, sentiu o choro sair. Choro daqueles compulsivos, gemidos, que o corpo todo chora junto. Gabriel percebeu.
- Fatinha, tá tudo bem? - Gabriel parou de falar, confuso - Tá chorando?
- Acho que sim - riu Fátima, nervosa.
- O que aconteceu? - perguntou o amigo.
- Nada, não aconteceu nada - ela disse - É você que estava falando, eu estava te escutando, não é justo falar agora.
O choro não parava, sentiu que tudo o que tinha passado nos últimos dias saíram junto com aquelas lágrimas.
- Fala, Fatinha, fala.
Ela falou, a voz saiu gemida, chorosa, doída.
- Tá todo mundo me criticando, sabe? Um me criticando porque eu terminei o namoro, outro porque eu voltei, eu estou enlouquecendo!
E chorou. Gabriel, como sempre, lhe deu os melhores conselhos, sem nunca pensar em si mesmo. Fátima chorou até as cinco da manhã, Gabriel ficava tentando fazê-la rir, mas não conseguia estancar o choro.
Passou o dia recebendo atenção do melhor amigo, que lhe consolava, e fizeram brigadeiro, jogaram video game, esses programas de amigos. E o culto a noite, foi melhor do que ela realmente esperava.
- Nada sai dos planos de Deus - dizia o pregador - Se as pessoas te julgam, te criticam, te apontam o dedo, lembre de que Deus está no controle, e que todo mundo já errou um dia. Confia em Deus.
Fátima entendeu a mensagem e a guardou no coração. Sabia que Deus estava com ela, e que toda promessa passa pelo teste do tempo. O que faltava agora, era o plano de Deus se concretizar, e ambos envolvidos nessa história confiarem em Deus.
Ele sempre está no controle de tudo.

Falando de... NAMORO CRISTÃO X VONTADE DE DEUS X MELHOR DE DEUS (Capitulo 1 - Drama de Fatima)

Vou contar uma história, que podia ser de qualquer pessoa. Qualquer semelhança com a realidade é simples coincidência.

Quando Fátima, a adolescente deprimida, foi para a igreja e se voltou para Deus, sua vida mudou da água para o vinho. Se tornou feliz, fazendo a vontade de Deus e se dando bem com todos, além de tentar viver a sua vida, sem se importar com que os outros vão pensar.
Fátima conheceu Brendo há alguns meses. Ele ia em outra igreja, era romântico, cuidava dela e era um bom amigo. Apesar da aparência "rebelde", que desagradava algumas pessoas que gostavam dela, quem o conhecia de verdade sabia que ele era do estilo "comportadinho" e que mudaria qualquer coisa por ela. Os dois namoraram alguns meses, pareciam ter sido feitos um para o outro: gostavam das mesmas coisas, pensavam do mesmo jeito, se amavam.
Engraçado como apesar de tudo, para Fátima tudo parece ter mudado. O jeito como pensa nele, os defeitos dele, o beijo dele, estar com ele... Tudo parece de repente ter se tornado mais frio, mais vazio. E o por quê? Porque Brendo provou não ser tão cristão quanto Fátima pensava. Provou que os valores dela, não eram os mesmos que ele tinha.
Já estava decidida a ficar sozinha, quando Gabriel ressurgiu das cinzas. Gabriel era seu melhor amigo há um ano atrás. Ela gostava dele, ele também, mas nenhum queria dar o braço a torcer. Além disso, Fátima sabia que ele também não era o melhor para ela, porque ele era de uma religião bem diferente da dela, e as crenças não se fechavam.
Voltaram a ser amigos, conversaram, se tornaram melhores amigos outra vez. Apesar de Gabriel dizer que ainda gostava dela, Fátima só o via como um amigo agora. Sabia que ele era exatamente tudo que pedira a Deus, que tudo que faltava era ele ter um encontro com Deus.
Então orou. Pediu a Deus que se fosse da vontade dele, que Gabriel tivesse um encontro verdadeiro com o Deus que ela conhecia tão bem, e só assim, ela pensaria no que fazer com Brendo.
Na outra semana, Gabriel se convidou para o culto na igreja dela. Naquele dia, saiu tão transformado, que parecia ter sido trocado por uma pessoa diferente. Passou a falar como ela, a pensar como ela, e para surpresa de Fátima, disse que estava orando pela vontade de Deus na vida dele, seja com ela ou com outra pessoa.
Confusa, Fátima pediu um tempo para pensar para o namorado. A melhor amiga, que era amiga de todos os envolvidos naquela história confusa, falou que Fátima tinha sido idiota, que onde já se viu, fazer isso com alguém que amava tanto (e como a melhor amiga a conhecia bem!). E como se não bastasse, disse que achava que Gabriel só estava indo na igreja por causa dela.
Hoje Fátima está sozinha. Solteira, orando, esperando o agir de Deus. Ela sabe que ama Brendo. Sabe que tem em Gabriel, um amigo maravilhoso, que ela tem orgulho de dizer que ganhou para Jesus. Entregou sua vida nas mãos de Deus, e está esperando o melhor dele, a vontade dele. Porque ele sempre tem o melhor para todos nós. 
Brendo continua tentando voltar com ela, e mostrou que a ama até mais do que ela imaginara. 
Gabriel continua orando, pedindo a vontade de Deus para a vida dela, e continua sendo o melhor amigo dela.
E o triângulo amoroso da vida real se torna um eterno sofrimento na vida de Fátima.

Vou explicar por partes, respondendo as minhas próprias perguntas, de acordo com a história.

Por que  Fátima viu em Brendo alguém que ela queria para ela, de depois percebeu que não era aquilo ali que ela pensava?
Na verdade, muitas vezes queremos tanto "não ficar sozinhas" que precipitamos as coisas, encontrando uma pessoa que nos faz feliz, e parece ser aquilo que a gente sonhou. Mas, nem sempre o que a gente sonhou, e o que Deus sonha para nós. E outra, apesar de na história de Fátima, Brendo ser uma pessoa bacana e comportada, ele tentou levar ela para um caminho que não deveria. Muitas vezes, essa nossa pressa de namorar nos torna presas fáceis de "bandejas" do Inimigo, né? Então, a melhor coisa a fazer é orar antes de iniciar um namoro, e ver se é a vontade de Deus ;)

Fátima percebeu que tudo estava mudando com Brendo, porque ele os valores dele eram diferentes dos dela. Por que isso aconteceu?
Ás vezes, quando nós percebemos que o namoro está indo para um caminho que não agrada a Deus, as coisas começam a ficar mais claras, e muitas vezes, notamos que o namoro não era tão "perfeito" quanto imaginávamos. Isso não é só uma forma de Deus mostrar que precisamos abandonar esse relacionamento, mas é nosso próprio espírito, mostrando para a gente que aquilo não está indo para o lugar certo.

Por que Fátima não podia ficar com Brendo, se ele era cristão? Aí é que vem o problema. Ser cristão e ir na igreja são duas coisas completamente diferentes. Qualquer um pode frequentar uma igreja. Ser cristão é imitar a Cristo, que é muito mais que obedecer as regras da igreja. Ser cristão é obedecer a Deus, por amor a Ele. O melhor para a gente não é um garoto que "vai à igreja" e sim, alguém que prove que conhece e obedece a Deus.

Se Gabriel e Fátima se gostavam há um ano, por que não podiam ficar juntos? Essa resposta já está bem respondida acima. O amor não é o mais importante no relacionamento. O importante é essas pessoas compartilharem as mesmas crenças, e obedecerem a Deus da mesma maneira. Ou então, são duas cabeças, indo para caminhos diferentes, e não um casal tentando caminhar juntos.

Fátima fez certo em pedir a confirmação de Deus? Sim. Orar a Deus, e tentar saber a vontade dele para nossas vidas, é sempre a melhor coisa a se fazer, em qualquer situação. Mas, como pode-se perceber pela história, só porque Deus confirmou o que ela pediu, não significa, que os dois não tenham que continuar orando, para saber a vontade de Deus.

O que a melhor amiga de Fátima disse a ela, poderia ser verdade? Sim. Um garoto quando apaixonado, faz qualquer coisa para nos conquistar, inclusive frequentar a igreja, ou tentar pensar um pouco com ela. Porém, mudanças verdadeiras são facilmente reconhecidas por quem é verdadeiramente seguidor de Cristo. Quem é amigo de Deus, reconhece um amigo de Deus, e ninguém pode enganar você, a não ser você mesmo.

Os três estão sofrendo, cada um pelo seu motivo. Por que Deus não faz nada para impedir seus sofrimentos? Essa resposta é bem simples. A vida não é feita só de alegrias, às vezes Deus permite que a gente sofra, para nos dar algo bem melhor mais tarde. O sofrimento é um degrau para a vitória. Talvez, daqui a algum tempo, Fátima e Gabriel estejam felizes, e Brendo encontre uma pessoa que o ame tanto quanto ele merece. Ou o triângulo se desfaz, e cada um vai ser feliz com outras pessoas.

Só Deus sabe o final dessa história. Por enquanto, só o que os três podem fazer é orar.

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